quinta-feira, 25 de outubro de 2007

/mixando tempos

e depois de ter ido e voltado, como definiria a vida? como nomearia todos os substantivos que dão sentido à existência e sobrevivência do qeu se chamar viver?

domínio não poderia ser uma forma de fugir também? de tentar entender, julgar-se sábia, senhora? dominar quem, mesmo? a vida? estar susceptível não parece ser o melhor ataque? vulnerabilidade. no espelho em que você reflete, como aparece sua face? de onde vêm os ventos que te deixam respirar?

eu? penso em como ser um pontinho melhor... num gosto de espelho, de vidro, de corte, de mágoa. do pesar que sobrevoa o clima daquela realidade de mentirinha que a gnt costuma inventar para subverter a lógica que diz que pertecemos a qualquer lugar.

Na verdade, minhas realidades e lugares se conjugam irregularmente em olhos como os meus, que adoram ver o indescritível. É como ligar para uma voz conhecida e ficar com medo do som proferido.

Desconhecer o favorito. Pecado, crime, por favor, obrigado. as luzes permanecem acessas, na vontade de ser sol nossas almas dormem quer queira em cárceres ou não o que, no dia, se lembrará da noite o quanto de uz conhece a escuridão o que de ontem pde haver no hoje o quanto de sim está contido num não

?

somos dois e muitos
mas não caminhamos de mãos dadas
destinos falidos cruzam
nossos adjuntos que,
conscientes das essências contraditárias,
tornam opostos imposição

domingo, 14 de outubro de 2007







"DESFANTASIA"

Déborah Guaraná
(2003)










Uma música triste de fundo consagra o fim de uma era. Quem engravidará do futuro? Como podem algumas horas definirem um ano... uma vida, talvez? Os minutos já passaram apressados como efeito dos entorpecentes - eles seguram-me de pé. A bagunça também já é normal: no quarto, lá fora e aqui. Ela já se instalou apoderando-se dos cômodos.


Confesso que é difícil andar sem pisar em mim. Humanamente impossível seguir trazendo comigo toda essa mala de lembranças. Meu mundo ruma para um segundo conflito generalizado, mal tendo se recuperado do primeiro. Onde está a paz pela qual tanto derramei este sangue? Duas opções restam: livrar-se de mim reinventando tudo num mundo distante, ou prosseguir com o peso do ontem. Como libertar-se da concepção de futuro tão incômoda-mente incorporada àvisaão de um presente palpável, pálido... pago. Como?!


Insisto no nada. Caio, porque os efeitos vão embora - só estavam no agora. Continuo sendo (de volta) essa criatura inconsciente da verdade. Vida é ordem agora. Vida apenas. Sem mistificações.
(2003)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

EXT. CARRO. MANHÃ

ANINHA
É, tipo, pode ser que eu pense assim porque, nunca, ninguém muito próximo meu morreu, mas podia
ser que eu tivesse a mesma visão também né?

MEL
É impossível você imaginar que termina ali, naquela terra e num cimento


CULA
É a visão que ela tem, né Mel? Pelo amor de deus...
Muito confortante, inclusive, Aninha!

ANINHA
Ai, Cula, desculpa
Eu nem devia falar essas
coisas, eu sei que tu detesta,
mas, assim, é que é impossível.

CULA
Ai, aninha, eu entendo. Mas
é que eu realmente não gosto,
sei lá velho. Num me
faz bem?


EXT. CARRO. MANHÃ.

ANINHA
Entende não, tu não entende
ninguém, muito menos
você próprio, e menos ainda seu pai.

MEL
Quarenta, herculano, quarenta

CULA (20) freia de vez.

CULA
Porra, será que pegou?

MEL
Menino, pára não. Tem gente atrás


EXT. ESTRADA. MANHÃ

POLICIAL
Habilitação e documento do carro, por favor

Cula entrega os documentos ao policial.

POLICIAL
Do seu pai, o carro?

CULA
Era

POLICIAL
Num é mais não é, rapazinho?

MEL
Algum problema, moço?

POLICIAL
Não, não, nenhum!
Imagine se eu ia arrumar
problema pra uma sinhôrita
bonita assim!

Tão ino pra onde?

CULA
Vai ficá aqui im Maraguji, mermo.

POLICIAL
Ta certo


EXT. PRAIA. MANHÃ

Mulher se deita na areia. HOMEM VELHO (40) aparece e desaparece. Ela suspira, se levanta e caminha em direção ao mar.


INT. CASA. NOITE

Cula caminha pela casa. Senta na escada com um espelho e faz a barba com uma pinça.


INT. QUARTO. NOITE

Com barba, Cula entra. MEL (20) está sentada na cama, chorando baixo. Cula entra, senta-se ao seu lado e acende um cigarro.

CULA
O cinzeiro ta aí, Mel?


EXT. PRAIA. MANHÃ

Mel corre na praia.


INT. QUARTO. NOITE.

Mel enxuga uma lágrima enquanto procura o cinzeiro na cama. Entrega o cinzeiro pra Cula. Ele bate a cinza, se levanta e sai.

MEL (sussuro)
Idiota

Mel encosta-se na parede e acende um cigarro. Joga as cinzas no chão. Cula entra, sem barba, e se senta ao lado dela. Mel suspira e encara-o.


EXT. PRAIA. AMANHECEDO.

MULHER (20) tira da bolsa alguns papéis. Mulher queima os papéis e suspira.


INT. VARANDA. AMANHECENDO.

CULA
Eu já expliquei que não tem nada a ver com isso.

MEL
Mas, Culinha, vai IMPLICAR em algo parecido.

Cula, olhe pra mim pelo menos!


EXT. PRAIA. AMANHECENDO

Mulher corre pela praia com maquiagem borrada. Vai desacelerando o passo até cansar e cair no chão. Ela chora.

MEL (V.O.)
Mas IMPLICA em algo parecido
IMPLICA em algo parecido
IMPLICA em al...

MEL (V.O)
Cula, olhe pra mim pelo menos!


INT. VARANDA. AMANHECENDO.

Cula olha para Mel.

MEL
Meu único problema, Culinha, é
saber que sempre que eu for
falar, você vai fugir pela tangente.
Eu não agüento guardar...

Mel começa a chorar.

MEL
É tão difícil, é tão ruim


CULA
Num é não, Mel. Cresça.
Deixe de ser criança, lide com isso.

Cula se levanta.

CULA
Ta que pariu ...
Eu não agüento,
entende?
Eu re-al-mente não agüento

Cula acende um cigarro

MEL
Eu não to
pedindo isso.

CULA
Pois a gente
vai fazer
um acordo agora,
certo?

MEL
Não


EXT. PRAIA. MANHÃ

Mulher se deita na areia. HOMEM VELHO (40) aparece e desaparece. Ela suspira, se levanta e caminha em direção ao mar.

MEL (V.O.)
Não


EXT. PRAIA. MANHÃ

A caminho do mar, a Mulher encontra Mel correndo. Elas se olham. Mulher observa Mel de dentro do mar.

MEL (V.O.)
Não


INT. COZINHA. MANHÃ

Cula abre a geladeira. Olha para sala e vê Mel saindo.

CULA
EEEEEEEEEEEEEEEEIIII


INT. SALA. MANHÃ

Mel pára.


INT. COZINHA. MANHÃ

CULA
Vai onde?


INT. SALA. MANHÃ

MEL (irônica)
Fechar um contrato com o mar.


EXT. PRAIA. MANHÃ

Mel corre, molhando os pés na água. Vê uma Mulher lhe observando. Desacelera o passo e se senta. Mel deita na areia.

MEL (sussuro)
Fechar um contrato com o mar.

Fechar um contrato com o mar.

Fechar um contrato com o mar.

MEL
FECAR UM CONTRATO COM A PORRA DO MAR, CARALHO!!

Homem velho aparece e desaparece, em pé ao seu lado. Mulher está em pé, ao seu lado.

MULHER
Também tem papel pra queimar?

Mel se assusta e se senta. Mulher se senta junto dela.


INT. COZINHA. MANHÃ

Cula põe o avental e separa panelas.


EXT. PRAIA. MANHÃ

MEL
Nomear sentimentos?

MULHER
Exatamente. Quando extrapola o
que é objetivo, a palavra perde
o significado pra se esvair no
entendimento pessoal de cada um.


INT. COZINHA. MANHÃ

Cula tira panelas do fogo e prepara uma bandeja de café-da-manhã.

ANINHA
Jáááá??

CULA
Bom dia, Aninha!

ANINHA
Cadê tua irmã?

CULA (irônico)
Foi assinar um contrato aí, cum mar


EXT. PRAIA. MANHÃ

MULHER
O ar é grávido de possibilidades,
de cheiros, de presenças.

MEL
Só que eu não sei pertencer de
verdade a tudo isso. É como se
eu tivesse de fora, só observando.
E eu não entendo, não assimilo. Na
minha cabeça não se passa essa...
essa gestação, sei lá

MULHER
Claro! Não se supõe que alguém
teja preparado para nada. Mas a
dor vai fugir do seu corpo, vai
ficar leve, mel, mais leve que o ar.

MEL
E qual o peso da caneta?


EXT. PRAIA. MANHÃ

Cula segura uma bandeja na praia e vê Mel falando sozinha.


Quantas crianças têm de morrer nas favelas e morros cariocas pra um burguês enrolar um baseado? Quanto dessa realidade se aplica ao resto do brasil? Será que foi por causa de um filme da globo que a maioria dos meus amigos pararam de fumar? Entre as respostas: estudando pra mestrado, to querendo provar que não sou viciado, pra provar chá é preciso estar limpo, etc. Quem financia realmente o tráfico brasileiro? Quem faz funcionar o "sistema"? Quem são os responsáveis? Em quem a globo quer pôr a culpa?

Wagner Moura ainda se droga? Tantas perguntas fervilham depois das quase duas horas do filmes e suas várias brechas inexplicadas. Será preciso vê-lo nas telonas e gerar mais dinheiro para essa megaempresa que monopoliza a comunicação no Brasil para encontrar respostas? Dez minutos a mais não mudarão o enredo trágico em que estamos inseridos, onde cada um faz nada e todos confiam no jornal, sem esperar por nada de novo, sem querer fazer com que qualquer coisa se transforme.

Eu quero mesmo é saber quem pode o quê? Se o sistema pode funcionar, quem sou eu ou você para deixar de nos drogar? Tem alguém aí que enxerga direito ou é tudo simples ruído de comunicação? Legalizar é a saída ou tem alguma outra solução?

Mais um minuto de silêncio pelo homem que foi morto a tiros na favela, perto do bueirão. Santa Luzia, Coque, Coelhos, Borel e todas as outras áreas que precisam mostrar quem está no poder. Que dizer do interior de onde nem se pode saber. Notícia, boato, mentira: nenhuma distinção. Só se sobe na vida, botando uma doze na mão?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Opa, é preciso esclarecer

"Deborah, você exagerou... A profundidade de campo da película ainda é muito superior à do vídeo digital. E, Yuri, acho bem difícil acreditar que em dez anos ou em qualquer tempo um computador será capaz de processar todas as informações da película, uma vez que a película trabalha com um espectro infinito de cores e de pontos. O caso, na minha opinião, é que o vídeo tem se tornado tão bom (a Red One, por exemplo) que torna difícil PERCEBER essa diferença. Eu, em todo caso, só tenho grana pro vídeo, portanto dou os dois tapinhas nas costas na turma da película!"


Esse foi o comentário de Victor, mas não sei se a respota a seguir entrou no site:


Bem, não exagerei não! Vcs provavelmente não entraram no site RED.COM

A RED trabalha com uma configuração duas vezes melhor que a pelîcula, a começar pela quantidade de informação que ela grava. A película tem uma resolução que convenientemente chamamos de 2K. Isso significa que a película grava em 2024x1080 linhas numa janela nativa 16:9. Diz-se que o olho humano nem consegue enxergar toda essa resolução, pois, ao passar de duas mil linhas, não é possível perceber. Essa qualidade é boa, porque, para quem fotografa, quanto maior a resolução, melhor a latitude de gravação. Essa qualidade da película, era, até o começo do ano, insuperável, e em vista disso, ainda se valia a pena filmar em película. Entretanto, hoje em dia, com o lançamento das câmeras da empresa RED (www.red.com), o formato de gravação e as convenções cinematográficas terão de mudar. A RED filma com 4K. São 4520 X 2540 pixels de resolução! Isso aumenta e melhora a latitude, tornando o vídeo superior à película. Uma das coisas que também se falava muito em relação à película era a velocidade de gravação.

Além disso, enquanto a película fazia 24 fotogramas por segundo, as câmeras digitais semi-profissionais (e até mesmo alguns modelos digitais) gravavam de modo entrelaçado, ou seja, toda a resolução que tinham era de, no máximo, 1080 linhas entrelaçadas em 29,97 frames por segundo (não eram fotogramas). Chama-se 1080i, os formatos de gravação das conhecidas HDV. Hoje esse modo de gravação já estava superado pela Panasonic, que lançou uma camera HDV que gravava em 24 progressivo (e não entrelaçado, como nas outras digitais). Com a RED também não é diferente, podendo filmar em 24, 30, 60 e outros.

A empresa define a camera como Ultra High Definition. Onde editar? No Final Cut Pro 2, que já oferece suporte para edição em 4K. Claro que isso tudo vai aumentar um pouco o orçamento de qualquer produção digital, mas ainda assim, nunca chegará aos pés do preço da película. Incentivo ainda todos a entraram no site da RED ONE (www.red.com) e darem uma olhada no preço das cameras. Não chega a 18mil dólares.

Barato? Pois é... E ainda tem quem diga que vídeo não é cinema. Ou seria o contrário? Uma vez fiz uma matéria, no Cine-Pe, festival de cinema aqui em Recife, sobre a empresa que possui um projetor móvel de película e exibe os filmes nos festivais brasileiros. Não lembro agora o nome da empresa, mas ía combinar de entrevistar o pessoal no intervalo e o técnico puxou uma cadeira e disse para conversarmos no meio da exibição do primeiro longa da noite. Fiquei com o coração na mão e perguntei se ele não ía ver o filme. O cara deu uma risada e disse que já tinha visto mils vezes. Fiquei curiosa e sentei: "Como assim?" Pergunta à qual ele respondeu com muita calma e naturalidade mais ou menos assim: só tem a gente com esse projetor no Brasil, a gente acaba indo pra todos os festivais e vendo esses filmes milhões de vezes.

Aí pesquisando encontrei uma empresa super legal! Imagine que você quer montar uma sala de cinema digital e alguém lhe oferece um computador (conectado à empresa distribuidora via satélite), projetor e tela. Faz um investimento inicial e depois paga apenas por sessão exibida! A empresa chama-se RAIN Network e, por incrível que pareça, é brasileira!

Gente, o único entrave para que o cinema não se transforme é o dinheiro que as grandes empresas norte-americanas vão perder com essa conversão. Imagine todas aquelas câmeras da Panavision sendo jogadas no lixo. Imagine que as distribuidoras iriam lucrar BEM menos com o cinema digital. Imagine se elas vão deixar isso acontecer? Imagine se a gente tem poder pra fazer alguma coisa com o pensamento retrógrado da maioria dos cineastas cheios de fetiche burro...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007


Quem você acha que é? Quem a TV pensa que você é? Quem assiste TV sabe quem você realmente é ou acaba pensando de você a mesma coisa que a TV? Todas sabem quem matou a protagonista da novela, mas poucos conhecem a realidade dos subúrbios brasileiros. Conhecem apenas a visão esteriotipada dos morros cariocas. Chegou a hora de mudar isso. Os brasileiros de 14 estados foram às ruas pedir transparência na renovação das concessões públicas de rádio e TV. Ou você não sabiam que esses veículos precisam da SUA permissão para operar? Mas aposto que você sabe quem matou Taís, hein?

terça-feira, 28 de agosto de 2007

“DOBRA NO MAR”

Era preciso ir até lá, até o mar. Revirar todas as consciências pendentes e entregar-se. As malas a pesar, suor a escorrer, sandálias a queimar os pés de quem não sabe onde pode chegar e, por isso, continua a andar, correr. Sem saber (ou perceber) que o destino é você.

Esperar um retoque e cumprimento do vento nos cabelos, da saudade no peito a coroar com um suspiro, essa vinda de longe. Saudação sem nem acreditar. Ali, diante de tudo e de nada, ela desacredita, pára, espera, sem pestanejar, com todo o tempo a seu dispor, com todo sabor de luta e coragem a fugir, sem querer mais destino algum que tivera a planejar.

Descer e esperar, cansar para moldar um estranho sentimento que a faz sofrer. Estou sem rumo? Pergunta-se esquecendo de que toda jornada seria em vão, caso tivesse realmente a escolher um caminho de volta, uma página virada para agendar o amanhã.

Remando um vôo ao encontro de si e dessa solidão que não pretende mais largar. No mar, a dobra lhe orienta o rumo, o remo não segue suas ordens - nem ao implorar-lhe. Desistir é processo fundamental para alcançar. Desistir para libertar-se. Enfim a sós, consigo e com uma história que carrega somente seus dedos, cabelos e sons. Na areia, pisar a terra como um retirante, caminhar até estar só e entregar-se.


“DOBRA NO MAR”

EXT. MARCO ZERO. DIA
MULHER, 20, carrega malas enquanto se dirige ao parapeito. Ela está suada.

EXT. BANCO PARAPEITO. DIA
Mulher fica diante do mar. Deixa as malas caírem. Encara o mar por uns instantes (sem acreditar). Mulher senta-se no banco, de costas para o mar, e acende um cigarro.

EXT. ESCADAS. DIA.
Mulher desde as escadas segurando as duas malas.

EXT. BARCO. DIA
Mulher rema com dificuldade, rindo.

EXT. BARCO. DIA
Remos estão dentro do barco. Mulher arranca folhas de uma agenda, molha-as na água, e põe todas de volta dentro do barco.

EXT. BARCO. DIA
Mulher rema sem dificuldade, séria. Vai até a areia, pára o barco, desce.

EXT. OUTRO LADO DO MARCO ZERO. DIA
Mulher tira as sandálias, deixa as malas e caminha em direção ao nada.